Resenha: O panoptismo eletrônico virtual e sua ameaça ao exercício da atitude crítica
Por Vitória de Almeida Kouzeki[1]
CANDIOTTO, Cesar; NETO, Silvio Couto. O panoptismo eletrônico virtual e sua ameaça ao exercício da atitude crítica. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 2, n. 35, p. 83-101, 2019.
O artigo escrito por Candiotto e Neto (2019) titulado “O panoptismo eletrônico virtual e sua ameaça ao exercício da atitude crítica” se propõe a uma análise de reconfiguração de conceitos de Michael Foucault, especificamente o panoptismo, mecanismos de controle e poder e técnicas disciplinares, imbuídos na complexa tecnologia virtual contemporânea. O artigo se divide em quatro sessões. A introdução do problema; a conceituação do panoptismo; a análise do panoptismo atrelado ao uso da tecnologia atualmente- nomeando o que chamou de “Panoptismo eletrônico virtual; A visão do panoptismo em desacordo com o conceito de “Monadismo” de Leibniz e de “Noopolítica” de Deleuze e por fim, as considerações finais. O autor eleva o conceito de Panoptismo visto que o utiliza para caracterizar o tipo de controle utilizado atualmente em corpos docilizados e alienados diante de sua incapacidade de perceber a vigilância a qual está sendo submetido. Traçando a história do conceito de Panóptico, nota que àquele modelo arquitetônico de Bentham é uma analogia ao modelo arquitetônico atual de formas de dominação políticas em uma pirâmide econômica que realiza a “sujeição algorítmica da existência”. Se com o advento da internet e das redes sociais houve uma transformação em âmbito social em direção a todas as dimensões humanas, há porém, nas mãos de um regime burguês de democracia, a objetificação do sujeito, do sujeito sujeitado, nas várias maneiras de objetivação humana; “Fragiliza-se o ideal moderno de um sujeito em processo de esclarecimento e emancipação” (CANDIOTTO, NETO, 2019) . No crescente aperfeiçoamento destes objetos tecnológicos, a inteligência artificial é apontada pelo texto como um refinamento de análise de coleta de dados através de redes sociais, realizado por indústrias que configuram um oligopólio. Tal análise de quantidades absurdas de dados gera a possibilidade de manipulação de pessoas para os fins dessas empresas privadas, muitas vezes servindo ao Estado e seus mecanismos de vigilância e punição, disciplina e controle. À atitude crítica e à filosofia cabem o papel de diagnóstico situacional contemporâneo – fato difícil de realizar, visto que os efeitos desta tecnologia ficam cortinados no presente, e como o texto indica e relembra comparativamente as consequências da revolução industrial, os efeitos dessa cadeia de vigilância, disciplina e controle só poderam ser apreendidos futuramente.
No entanto é possível tomar exemplos atuais deste tipo de poder que tem se mostrado uma tecnologia política: Situações como o Brexit e as eleições de Donald Trump, demonstrarem que houve uma imposição estratégica e imperceptível de manipulação dos eleitores. O final do artigo é categórico. Ao continuar se debruçando em Foucault, chega-se em Kant e no postulado de que o sujeito se volta a sua domesticação- menoridade, e coloca o poder de sua vida em outra pessoa. Tal comportamento gera uma sujeição mascarada. Além disso, o retrocesso de uma sociedade justa e igualitária para uma sociedade intolerante e desagregada de valores de cooperativismo, humanidade, igualdade e real democracia.
[1] Bel. em Psicologia na Universidade de Marília (2019), graduanda no curso de licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita