Tecnologias da Informação e Sociedade em Rede: Uma Reflexão Crítica e Multidisciplinar

Tecnologias da Informação e Sociedade em Rede: Uma Reflexão Crítica e Multidisciplinar
Tempo de leitura: 19 minutos.

Por Jaqueline De Oliveira Dos Santos e Renata Cristina Soares        


Introdução

Muitas das transformações observadas na atual sociedade devem-se aos avanços das denominadas TICs ( Tecnologias da Informação). Tais tecnologias abrangem um vasto conjunto de recursos destinados ao tratamento, à organização e à disseminação de informação (TAKAHASHI, 2000), sejam eles dispositivos de hardware ou software, simples aplicativos ou complexos sistemas de inteligência artificial. Elas modificam radicalmente a forma como o indivíduo e a sociedade como um todo lidam com a informação, abrindo novos horizontes no que se refere ao acesso e à aquisição de conhecimento. Apesar da importância das TICs na sociedade, é importante salientar que as tecnologias não são as únicas responsáveis pelas transformações sociais. A nova forma de sociedade é, na realidade, fruto  de  diversas  e profundas mudanças sociais, econômicas, culturais e, inclusive, tecnológicas ocorridas de forma conjunta (CASTELLS, 2010).Contudo, soluções meramente tecnológicas são adotadas com frequência em respostas às atuais questões informacionais, o que de fato é uma abordagem simplista e reducionista. Por outro lado toda esta gama de informaçaões também contribuem com o surgimento de diversos problemas, como, por exemplo, a falta de confiabilidade das informações produzidas e disseminadas.

Diante deste contexto ao compreender a relação entre tecnologia e sociedade faz-se possivel perceber que os avanços tecnólogicos são moldados pelas necessidades e contextos sociais. A tecnologia transforma a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Portanto, analisar essa interação é essencial para promover um desenvolvimento mais consciente e inclusivo. Este artigo propõem investigar os impactos sociais das inovações tecnologicas e seus desafios. Assim, pretende-se contribuir para uma reflexão crítica sobre o papel da tecnologia na construção da sociedade.

 

A revolução das tecnologias de informação e comunicação na sociedade contemporânea.

Com a revolução das tecnologias de informação e comunicação, no Século XX, mantém–se uma estreita ligação com o processo de reestruturação do sistema capitalista que se desenvolve desde a década de 1980, produzindo uma nova estrutura social, ocasionando rupturas radicais e provocando transformações, o que, na opinião de Castells (1999) está gerando um novo sistema social. Nesse sentido, ressalta o autor.

A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organização em redes; pela flexibilidade e instabilidade no emprego e a individualização da mão–de–obra. Por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e altamente diversificado. E pela transformação das bases materiais da vida – o tempo e o espaço – mediante a criação de um espaço de fluxos e de um tempo intemporal como expressões das atividades e elites dominantes.

O processo de criação e inovação dos conhecimentos possibilitados pelas tecnologias de informação e comunicação contribuiu para a ampliação do saber humano (em todas as áreas científicas) nas últimas décadas do século XX. A diversidade de teorias e sistemas conceituais trouxe a certeza de que não se concebe mais o conhecimento como verdade absoluta. Todas as áreas da ciência assumem que o conhecimento é transitório e relativo. Ele é ”intotalizável” e ”indominável”, como diz Lévy (1999). Isso muda o ”status” do conhecimento científico, que já não pode mais ser compreendido como aquele que dá conta de todos os problemas sociais.

Estar em sintonia com essas transformações significa compreender a dinâmica das sociedades cujo ”o mundo da tecnologia também se configura como uma forma de inclusão social” (Baggio, 2000). Nessa perspectiva, compreendemos a necessidade de todos – os países, governos, setores educacionais, industriais e comerciais, assim como bibliotecas, arquivos, museus – a inserirem–se na sociedade da informação como uma necessidade exigida pela reestruturação econômica, política e social. Lemos e Costa (2005) reconhece que ”[…] o que está em jogo é a emergência de tecnologias de base digital e telemática e sua interface com a cultura contemporânea”. Os autores argumentam que é a configuração da sociedade em rede que faz emergir necessidades políticas, sociais e culturais de inclusão de grande parte da população.

No processo histórico das tecnologias e a sua influência na sociedade Castells (1999) relembra ”[…] a habilidade ou inabilidade das sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico […]”, bem como o uso que as sociedades, sempre em processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. Retomando os argumentos de Castells (1999), podemos considerar que ”as pessoas moldam a tecnologia para adaptá–la a suas necessidades”. A comunicação mediada por computadores não substitui os diferentes meios de comunicação nem cria novas redes, mas pode reforçar os padrões sociais existentes. O impacto cultural mais importante das tecnologias de informação e comunicação pode ser o reforço potencial das redes sociais culturalmente dominantes.

 

Fake news

O fenômeno das fake news ganhou enorme popularidade nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, diante disso, os professores Alcott e Gentzkow definem esse fato como notícias intencional e comprovadamente falsas, que poderiam induzir o leitor ao erro.Assim, essas informações são propositalmente tomadas por erros ou falsidades, emitidas e reproduzidas com fito de criar uma narrativa e atingir certo objetivo, o qual pode ser variado, desde descredibilizar um oponente político até espalhar desinformação sobre certa doença. O destaque gradativo das fake news nas mídias evidencia a necessidade de entendê-las e encontrar formas de mitigar seus impactos, uma vez que essas informações falsas têm influência direta na opinião pública e no comportamento cotidiano dos cidadãos, o que acarreta numa desconfiança por parte do público nos veículos de mídia tradicionais, os quais passam por mais etapas de apuração de fatos, como a checagem de fontes e verificação de possíveis manipulações, antes de publicarem qualquer notícia.

 

Ciências e tecnologia na educação

Desde que se iniciou, há mais de trinta anos, um dos principais campos de investigação e ação social do movimento Ciência Tecnologia Sociedade tem sido o educativo. Nesse campo de investigação, que comumente chamamos de “enfoque CTS no contexto educativo”, percebemos que ele traz a necessidade de renovação na estrutura curricular dos conteúdos, de forma a colocar ciência e tecnologia em novas concepções vinculadas ao contexto social.

De acordo com Medina e Sanmartín (1990), quando se pretende incluir o enfoque CTS no contexto educacional é importante que alguns objetivos sejam seguidos: Questionar as formas herdadas de estudar e atuar sobre a natureza, as quais devem ser constantemente refletidas. Sua legitimação deve ser feita por meio do sistema educativo,pois só assim é possível contextualizar permanentemente os conhecimentos em função das necessidades da sociedade. Questionar a distinção convencional entre conhecimento teórico e conhecimento prático – assim como sua distribuição social entre ‘os que pensam’ e ‘os que executam’ – que reflete, por sua vez, um sistema educativo dúbio, que diferencia a educação geral da vocacional. Combater a segmentação do conhecimento, em todos os níveis de educação promover uma autêntica democratização do conhecimento científico e tecnológico,de modo que ela não só se difunda, mas que se integre na atividade produtiva das comunidade de maneira crítica.

A educação é um dos pilares da construção da sociedade da informação. Educar, para além da capacitação do uso das tecnologias de informação e comunicação, proporcionaria aos indivíduos exercitar as novas formas de pensar, agir e conhecer para participar da produção de bens e serviços, das tomadas de decisão e de saber operar eficientemente o conhecimento nas atividades laborais, ferramentas, equipamentos e tecnologias constantemente atualizadas (Takahashi, 2000).

Nessa perspectiva, a educação assume um papel relevante na sociedade em que se prioriza o domínio de certas habilidades. Os indivíduos desprovidos de competências para processar a informação e ressignificá–la, para transformar em informação e conhecimento valorizado por essa sociedade, poderão ser excluídos. Pensamos que a educação precisa estar atenta aos novos espaços de aprendizagem e produção do conhecimento possibilitado pelas tecnologias de informação e comunicação.

Takahashi (2000) defende que ”a educação é o elemento–chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, garantir seu espaço de liberdade e autonomia”. Isto porque a educação deve permanecer ao longo da vida para que o indivíduo tenha condições de acompanhar as mutações tecnológicas.

O que pode ser disponibilizado por meio das tecnologias de informação e comunicação torna–se pedagógico pela ação do indivíduo–aprendente. Portanto, é preciso pensar uma educação que privilegie essas tecnologias assim como os ginásios de esporte, os laboratórios de ciências e outros espaços familiares ao professor. Assim podemos enfatizar que resta ao professor, reconhecer o espaço virtual como um campo necessário a seus recursos didáticos, principalmente se o relacionarmos com as bibliotecas digitais, cujo teor torna–se ferramenta para pesquisa de conteúdos e disseminação de informações capazes de enriquecer a educação a caminho da sociedade da informação.  O  Brasil  apresenta  um  círculo  virtuoso  de avanços no uso intensivo das tecnologia informacionais nas escolas e no ensino superior pela criação de: novos espaços de acesso público, políticas educacionais e desenvolvimento tecnológico. Contudo, há uma ênfase maior na tecnologia do que na inclusão social, deixando a sociedade condicionada ao acesso tecnológico sem haver uma reestruturação curricular do ensino, que deveria passar pela inserção dos educadores na reestruturação de um novo modelo de ensino e aprendizagem. Vemos o surgimento de muitos telecentros e a ampliação do acesso às mídias eletrônicas, criados como uma forma de fornecer um amplo acesso a informação para a sociedade, quando as políticas educacionais têm sido realizadas de forma fragmentada (Silva, 2007).

Diante de tantos impasses e avanços, questionamos quanto às dicotomias da sociedade da informação: por que é desejável promover a sociedade da informação? As respostas perpassam por várias vertentes, dentre as quais destacamos permitir implementar materialmente a lógica de redes, numa visão mais social, dando vazão aos sonhos de uma sociedade colaborativa e continuada. Assim, inclusão e democratização da informação são elos inseparáveis e determinantes para a sua consolidação.

 

Tecnologia na saúde

A saúde constitui-se em um bem ou valor que ocupa o topo da pirâmide de prioridades das pessoas. É comum ouvir-se a expressão popular de que ‘tendo saúde, todo o resto da vida dá-se um jeito’. Portanto, na sociedade atual, sob acelerado desenvolvimento científico e tecnológico (tecnociência) e um verdadeiro frenesi pelo novo (inovação), seria de se esperar que o setor saúde tivesse fortemente impactado por este processo. Em especial, por tratar de corpos biológicos marcados pela finitude, de seres humanos que se relacionam entre si e com a natureza. Alimenta-se o sonho ou desejo de prolongamento da vida ao máximo, de cura de doenças e incapacidades, de procedimentos estéticos determinados mais pela cultura do que por condições funcionais. Por outro lado, o mundo contemporâneo e globalizado também traz, permanentemente, novas ameaças, riscos e sinais de vulnerabilidade, como, por exemplo,as pandemias.

Os investimentos em avanços e novas descobertas tecnocientíficas na área da saúde são enormes e crescentes. Novos medicamentos e vacinas, próteses, órteses, exoesqueletos, máquinase equipamentos para diagnóstico e intervenção, robôs cirúrgicos, informação e comunicação instantânea, prontuário eletrônico único nacional e integrado para acesso internacional, implantes, transplantes e, inclusive, a produção artificial de células humanas, são exemplos de campos de investimento e trabalho de milhares de técnicos e cientistas.

As tecnologias de atenção à saúde incluem medicamentos, equipamentos, procedimentos técnicos, sistemas organizacionais, educacionais e de suporte, programas e protocolos assistenciais, por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população. As tecnologias em saúde podem ser estudadas em uma perspectiva histórica identificando os conhecimentos, explicações e técnicas utilizadas nos diversos momentos históricos, desde os primórdios da humanidade até a atualidade.

Toda forma de intervenção ou tecnologia de atenção sempre esteve vinculada a uma explicação sobre as doenças, suas causas e efeitos. Assim, a doença foi associada a causas sobrenaturais, a desequilíbrios de funcionamento e de humores do corpo e a influências das condições climáticas e atmosféricas, com ênfase na capacidade curativa da natureza, associada à alimentação9. Indubitavelmente, tornou-se dominante a ideia de doença como disfunção de uma parte, órgão ou sistema do corpo, de origem mono ou mult causal, que fez desenvolver-se um olhar para o indivíduo (para a parte afetada de seu corpo), para o diagnóstico e o tratamento do “mal”, utilizando o hospital como espaço assistencial privilegiado. O hospital e as clínicas são o cenário dos grandes avanços da ciência normal da modernidade, onde são utilizadas técnicas e tecnologias cada vez mais sofisticadas tanto no diagnóstico quanto no tratamento das enfermidades.

Na atualidade é também notável a influência da inovação tecnológica, seja em termos de disponibilidade de equipamentos ou em novas técnicas assistenciais, sobre diferentes campos ou especialidades do setor saúde. Assim, são impactados os conhecimentos da clínica e da epidemiologia, da saúde mental, da dimensão cultural do processo saúde-doença e os modelos de organização e gestão do trabalho.

O setor saúde, fortemente influenciado pelo paradigma da ciência positiva, tem sido sensível à incorporação tecnológicas do tipo material, para fins terapêuticos, diagnósticos e de manutenção da vida, utilizando os conhecimentos e produtos da informática, novos equipamentos e materiais, mas tem sido menos agressivo na utilização de inovações do tipo não material, em especial das inovações no campo da organização e relações de trabalho.

A industrialização trouxe como bagagem a modernização, o avanço tecnológico e a valorização da ciência. Na área da saúde tais avanços se expressaram com a introdução da informática e o aparecimento de aparelhos modernos e sofisticados, trazendo benefícios e rapidez no diagnóstico e tratamento das doenças. Essa tecnologia moderna, criada pelo homem, à serviço do homem, tem contribuído em larga escala para a solução de problemas antes insolúveis, e pode reverter em melhores condições de vida e saúde para as pessoas.

Estudos sobre cenários específicos, como Unidades de Terapia Intensiva e cuidados profissionais de enfermagem, mostram que estes profissionais são constantemente desafiados por situações clínicas complexas, que exigem apurada atenção e controle e, por isso mesmo, a integração, consistente, correta e segura, de inovações tecnológicas ao sistema de cuidados à beira do leito. Obviamente que tais inovações precisam ser avaliadas em seu impacto sobre o trabalho profissional e segurança do paciente.

Um estudo comparou, metaforicamente, as fases históricas da construção tecnológica na enfermagem às fases cíclicas lunares, para considerar o tempo atual como ‘lua cheia’, marcado pela presença de registros, patentes no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), e desenvolvimento de projetos de pesquisa com produção de tecnologias de enfermagem, financiados por agencias de fomento, além de teses e publicações com crescente visibilidade. No entanto, a autora questiona se o uso de tecnologia da informatização estaria resultando em maior tempo para gerar novas sensibilidades no cuidar em enfermagem, promovendo a maior explicitação da arte subjacente ao trabalho.

O Brasil ainda é altamente dependente dos demais países na área de tecnologias em saúde e a identificação deste problema mobilizou a recente formulação e implementação de uma estratégica Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde. Finalmente, as ciências e as inovações tecnológicas devem ser conduzidas de modo a priorizar a solução dos graves problemas estruturais e globais da humanidade, num compromisso efetivo de contribuir, de forma significativa, para uma sociedade mais digna, justa, solidária e sustentável.

 

Inclusão digital na sociedade

No que tange à inclusão digital como parte da inclusão social, notamos que diversos objetivos e estratégias inclusivas têm sido compartilhados por diversos governos, no mundo, nas últimas décadas, com a finalidade de democratizar a informação. No Brasil, por exemplo, alguns projetos, tais como Casa Brasil, Centros Vocacionais tecnológicos, Computador para Todos, Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC), Projeto Computadores para Inclusão, Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), Quiosque Cidadão, entre outros, têm sido apoiados pelo Governo, com vistas à democratização do acesso às tecnologias de informação e comunicação, de forma a inserir todos na sociedade da informação e do conhecimento, facilitando o acesso de pessoas de baixa renda às tecnologias. Mas ainda são insuficientes, pois nos parece que a inclusão digital deveria estar voltada amplamente para o desenvolvimento de tecnologias que ampliem o acesso e o uso por grupos vulneráveis à desigualdade social (Brasil, 2003).

A propósito, o projeto de inclusão digital do Governo Federal, Computador para Todos – Projeto Cidadão Conectado – registrou mais de 19 mil máquinas financiadas até meados de janeiro, ”pouco menos de 2% da meta do programa, se levarmos em conta apenas os dados de financiamento, que é vender um milhão de máquinas para consumidores com renda entre três e sete salários mínimos nos próximos meses” (Braun, 2006).

O acesso de todos/as os/as cidadãos/ãs à informação digitalizada na Internet possibilitaria, talvez, a produção, a disseminação e a democratização da informação. Entretanto, a informação, o conhecimento, a cultura e a comunicação ainda estão designados para os grupos que, historicamente, sempre tiveram acesso aos saberes produzidos pela humanidade, constituindo o ”monopólio de informação” (Mattelart, 2002) como um dos resultados da dominação político–econômica, porquanto o custo do acesso à digitalização da informação parece reforçar a desigualdade social e produzir a desigualdade educacional. Embora o Ministério da Educação venha se empenhando no sentido de acelerar as ações do Programa de Combate ao Analfabetismo no Brasil, com vistas à inclusão social, tendo como meta alfabetizar ”20 milhões de brasileiros que ainda não sabem ler e escrever, bem como apoiar as ações destinadas à inclusão social”, tais medidas são insuficientes. É abrangente a crítica de Schwarzelmüller (2005), quando afirma que ”a inclusão digital que vem sendo praticada hoje, no país, tem abordado muitas vezes apenas a necessidade de fazer com que o cidadão aprenda a usar as tecnologias de informação e comunicação, com o objetivo de inseri–lo no mundo do trabalho”. E com esse objetivo, são realizados cursos que, por utilizarem o modelo fordista de transmissão de informação, não garantem a construção do conhecimento com apropriação crítica da tecnologia que provoque mudança comportamental no indivíduo e no grupo social. Como destaca Schwarzelmüller (2005), […] não é o acesso à tecnologia que promoverá a inclusão, mas sim, a forma como essa tecnologia vai atender às necessidades da sociedade e comunidades locais, com uma apropriação crítica, pois o papel mais importante do processo de inclusão digital deve ser a sua utilidade social. É preciso pensar na contribuição para um desenvolvimento contínuo e sustentável, com a melhoria da qualidade do padrão de vida da população, através da redução das desigualdades sociais e econômicas.

A apropriação crítica, com utilidade social, passa pela questão da informação para a cidadania, que visa à criação de conteúdos de utilidade pública, como seguridade, saúde e educação, cuja disponibilidade facilitará a interação entre o cidadão e o Estado, com efeitos impactantes na qualidade do serviço prestado e conseqüente melhoria na qualidade de vida. Nesse sentido, a inclusão digital seria o pleno acesso aos bens culturais e o seu uso, proporcionados pelos avanços das tecnologias de informação e comunicação por todos os indivíduos.

Há uma tendência na literatura recente a ressaltar que quando direcionadas adequadamente e apoiadas por políticas públicas de inclusão na perspectiva da melhoria da qualidade da educação, as tecnologias de informação e comunicação podem contribuir para a inclusão digital/social (Silva Filho, 2007; Valente, 2005). Piolli (2003) assegura que ”Inclusão digital e inclusão social são indissociáveis”. Nesse sentido, acreditamos que o fortalecimento das políticas públicas de inclusão digital nas escolas públicas, pode democratizar a informação e impedir que as novas gerações sejam excluídas digital/informacionalmente. Porquanto, ter acesso à Internet significaria participar de uma rede de informação e serviços, evitando–se que uma gama da população brasileira continue à margem desse processo. O acesso a informações significativas, na concepção de Morin (1986), resolve incertezas, elimina preocupações, provocando novas concepções sobre a realidade e a informação se apresentaria como ”predestinada” ao sucesso.

 

Considerações finais

As considerações finais sobre a relação entre tecnologia e sociedade revelam um cenário de constante evolução e interdependência. A tecnologia, em suas múltiplas formas, não é apenas uma ferramenta, mas um catalisador que molda comportamentos, redefine interações e impulsiona transformações sociais em escala global. Desde a revolução industrial até a era digital, cada avanço tecnológico trouxe consigo um conjunto de desafios e oportunidades, exigindo da sociedade uma capacidade contínua de adaptação e reflexão crítica.É imperativo reconhecer que, embora a tecnologia ofereça soluções inovadoras para problemas complexos, ela também pode exacerbar desigualdades existentes e criar novas formas de exclusão. A democratização do acesso à informação e às ferramentas digitais é um desafio persistente, e a lacuna digital continua a ser uma barreira para o desenvolvimento inclusivo. Além disso, questões éticas relacionadas à privacidade, segurança de dados e inteligência artificial demandam atenção e regulamentação rigorosas para garantir que o progresso tecnológico sirva ao bem-estar coletivo.Em última análise, o futuro da tecnologia e da sociedade dependerá da nossa capacidade de navegar por essas complexidades com sabedoria e responsabilidade. É fundamental promover uma educação que capacite os indivíduos a compreender e utilizar a tecnologia de forma consciente, incentivando o pensamento crítico e a inovação ética. Somente assim poderemos construir um futuro onde a tecnologia seja verdadeiramente uma força para o progresso humano, promovendo uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável para todos.

 

Referências

CASTELLS, M.The rise of the network society: The information age: Economy, society, and culture. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.

TAKAHASHI, Tadao (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.

Brasil. Lei nº 10973. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Brasília (DF): Congresso nacional; 2004

SCHWARZELMÜLLER, A. F. 2005. Inclusão digital: uma abordagem alternativa [en línea]. 2005 [citado maio 3, 2008].

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