Por Giovana Astolfi Moura
O vídeo apresentado é uma gravação de um seminário promovido pelo Observatório dos Impactos das Novas Morfologias do Trabalho sobre a Vida e Saúde da Classe Trabalhadora, do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP). Nele, diversos pesquisadores e especialistas das áreas de sociologia do trabalho, economia e tecnologia se reúnem para discutir os efeitos da inteligência artificial no mundo do trabalho. Trata-se de uma conversa profunda, crítica e multidisciplinar que convida à reflexão sobre os rumos que estamos tomando com o avanço dessas tecnologias.
Ao longo do debate, fica evidente que a inteligência artificial vem assumindo tarefas rotineiras especialmente nas áreas administrativas e operacionais, com isso, vai modificando significativamente a dinâmica dos ambientes de trabalho. Mas o impacto não para por aí, mesmo em funções não automatizadas, há uma pressão crescente para que os trabalhadores humanos alcancem níveis de produtividade semelhantes aos das máquinas, o que acaba gerando tensão, sobrecarga e ansiedade.
Um ponto que chama bastante atenção é a forma como a IA pode intensificar o ritmo do trabalho e reforçar mecanismos de controle, como o chamado “controle algorítmico”, que monitora os trabalhadores em tempo real. Essa realidade traz à tona problemas sérios, como o adoecimento mental e a sensação de despersonalização no exercício das atividades profissionais. Os trabalhadores menos qualificados, em especial, tendem a ser os mais impactados, já que são os primeiros na linha de substituição por máquinas.
Outro aspecto importante abordado no seminário é o modo como a tecnologia pode reforçar desigualdades já existentes. Discutiu-se, por exemplo, como os algoritmos, muitas vezes construídos sobre dados enviesados, acabam reproduzindo preconceitos históricos de gênero e raça. Além disso, foi levantada a preocupação com a falta de regulamentações claras que orientem o uso da IA nas empresas, o que abre espaço para decisões unilaterais e tecnocráticas, distantes da realidade dos trabalhadores.
Diante desse cenário, os participantes defenderam algumas medidas urgentes: políticas públicas de requalificação profissional, incentivo à inovação aliada à responsabilidade social e a criação de mecanismos de proteção para quem for impactado pela automação. Também se reforçou a importância da participação ativa de sindicatos e dos próprios trabalhadores nas decisões sobre o uso da IA no trabalho.
O principal recado deixado pelo seminário é que a tecnologia, por si só, não é neutra. Seus efeitos são moldados pelas escolhas políticas, econômicas e sociais que fazemos. Por isso, é essencial enxergar a inteligência artificial não apenas como uma ferramenta, mas como parte de um processo maior, que envolve disputas de poder e a reconfiguração das relações no mundo do trabalho.
Publicado 29/04/2024 14:37 – última modificação 29/04/2024 14:37, Participantes: René Mendes, Guilherme Ary Plonski, Adriane Reis de Araújo, Matheus Viana Braz, Roseli Fígaro e Eduardo Bonfim da Silva.
Link Youtube: https://youtu.be/FmP9jGKlAwc